Um dia me distrai e pegaram o meu celular para tirar algumas fotos
Buzinas nos meus ouvidos
Fotografaram pouca coisa, mas deixaram rastros poderosos
Sendo tudo o que me restou daquele tempo
Nessas fotos vejo você e tudo aquilo que tu é sem nunca antes ter me deixado saber. Quase morri sem te conhecer pela dificuldade que tivemos de acessar um ao outro
E no meio da dúvida, paramos por não conseguir mais avançar
Temendo pela humilhação
Ainda em ambos os lados
Porém o tempo consegue congelar até o mais quente sabor. E finalmente não sentimos tanta dor agora
Talvez daqui há algum tempo não iremos nos lembrar de quase nada
A gente se foi. Partimos pra tão longe que não há mais onda ou mar que nos carregue pra perto
Navios afundados pelo percurso de nossas vidas
Sonhos com beijos em praças urbanas
E sapateando decepções pelo mundo
Só por nunca ter sido escutado
Mesmo pedindo educadamente para falar
O mundo agora é outro. Talvez em outras dimensões nos arrependeremos de tudo o que não foi feito, mas juro que meu coração estabeleceu um limite que foi pedido por você e eu jamais serei aquele que não te respeitou
Adeus
Precisei zerar lembranças de palavras e frases que vieram como lanças
E me atingiram até me derrubar
Agredindo tudo aquilo que eu sou
Ainda não sei como será o futuro, apenas sei que já fui atingido por séculos de outras lanças muito mais cortantes e ainda assim segui vivo e cantante
Entregando o meu amor para os ouvidos atentos
E esquecendo velhos passeios
Portanto nenhuma falta de amor tem o poder de me matar
Não agora que já conheço tudo o que eu sou
Quase esqueci de dizer uma última coisa
Sou um pouco desatento com obrigações
Mas me ligaram hoje cedo no mesmo celular que tu pegou escondido para fotografar e aos prantos me avisaram que tu morreu
Sua morte foi rápida e intensa
Porém te desejo o que nunca me desejou: lindos voos para essa sua alma
Que morreu
Pelo medo de tentar coisa alguma
Preciso vir aqui para deixar bem claro que toda a poesia que existiu, está indo embora agora junto com a sua alma morta
E eu que vivi por muito tempo ao lado de quem me amou muito entendi que foi importante ter zerado o jogo (assim dizia você) como quem fazia questão de me perfurar em palavras vagas. Foi assim que eu aprendi a me amar
Enquanto você morria por ali
Adeus
Adeus
E pela última vez:
Adeus.
Já que quer morrer, que tu morra em paz
Em mim há a vida do mundo inteiro
Menos a sua
Que nunca foi entregue pra você.
O navio partiu
Para naufragar em outros oceanos
Porém o navio praticamente nunca existiu
Agora que de tão distante, se tornou apenas uma velha lembrança
Mas não me lembro de você
Afinal
Nunca te conheci de verdade
Tudo isso para ouvir do meu coração: que bom que nunca conheceu de verdade.
Com muita dor, termino por aqui
Outra vez respeitando tudo o que eu verdadeiramente sou.
Foi quase assim que eu nunca te conheci de verdade
Mas a verdade ou as coisas mais bonitas da minha vida, nunca te mostrarei
Pois por opção sua
Você morreu
Sem levar nada de mim.
Igor Florim