Hoje eu não quero escrever coisa alguma

Caí da cama

Fiquei lá

Deitado

Sem mover nenhum músculo do meu corpo

Pensando nas coisas do meu dia

Tudo muito pesado

Longas jornadas

A bem da verdade, eu engano vocês o tempo todo

Não acreditem em nenhuma palavra que eu escrevo, nunca

Esse foi o seu maior erro

Acreditar nessas coisas

Não entender que quando escrevo, eu falo de ti

De coisas que soa pelos seus lábios na sua vida mais subjetiva

No lugar onde não há julgamentos ou filtros do seu ego

Portanto não estou narrando como foi o meu dia

Ou a minha queda

Nem tão pouco sobre o meu possível sofrimento ou êxito

Digo o que eu nunca disse

O que penso

No breve instante em que escrevo

No único momento de vitalidade que tenho

No que eu sinto

E na expectativa tento materializar em histórias, rimas, contos

Numa poesia que te envolva

E talvez te faça acreditar em tudo

Te jogando numa calçada suja e fria

Querendo que você vá além

E quando eu digo – eu

Digo tu!

O mais bruto leitor

Aquele que se entrega às palavras, que não espera nada de si

Muito menos de mim

Tua interpretação sobre o que lê, diz mais sobre você do que sobre quem escreve

Numa dessa eu irei te afundar profundamente

Naquilo tudo

E você perdeu

Pare de fechar seus olhos

Veja

Esse vírus que se espalha não é o que se pensa

Mas não pense nisso

É no seu medo que ele irá te contaminar

E não na sua ida ao supermercado para abastecer à quarentena

Nunca pare irmão

Sinto saudades sinceras de ti

Quando for falar de mim, por favor, fale claro

Só assim irei te entender

Sem essa coisa poética que ninguém entende nada

E fica lá

Se perdendo na leitura

Duvidando da escrita

Da veracidade dos fatos

Tudo isso é o seu olhar

E você se limitando à tudo o que vê

Não importa o que eu diga

Se a mudança não for escolha sua, continuará vendo só as mesmas coisas

E talvez um dia se queixe de que nada mudou

Lamentando de coisas passadas que foram tão pouco

Parece que eu queria sim escrever alguma coisa

É sempre assim

Eu lavo a minha alma

Você desacreditaria se eu te falasse o que acontece comigo quando…

Eu não escrevo

E eu falo de ti, não falo de mim

Quando tu não escreve, seu dia não se conclui

Deixando dentro de seu peito uma dor que te tira o ar

E permanece lá

Te sufocando

Foi escolha sua não querer transpassar

É uma existência perfeita a que você tem

E você olhando justo pras dificuldades que iriam te evoluir

Estagnando no que vê

Não indo além

Não decifrando os escritos

E encontrando outras dimensões além da vista pelos olhos

Você é essa paisagem toda

Não faria sentido esta vida sem ti

Não se esqueça, você escreve todos os dias

Aqui

À zero hora.

Estou te enganando e você nem percebeu coisa alguma.

Igor Florim