
O outono chegou mas a bem da verdade, sinto temperaturas de inverno nessa casa
As paredes são frias
E o teto é alto
Muito espaço pra tudo gelar e ficar assim – sem circulação
Talvez se circulasse eu morreria de frio
Mas sigo muito bem
Mesmo nessa geada toda quando abro a casa de manhã
Parece que querem consumir o meu calor
Mas não fazem isso direito
Hoje vou contar a história de um antigo amigo, para que entenda das temperaturas que eu digo
No início da minha adolescência, eu conheci um amigo que iria ter a minha confiança
E eu demoro pra confiar nas pessoas
Mas reconheço que é uma insegurança minha e ao mesmo tempo uma auto proteção que me respeita
Me protege
Porém esse cara era um mundo inteiro
E vocês sabem que eu amo novos mundos
Naquele mesmo ano eu fui ameaçado na escola
Combinaram de me bater na saída da aula, no dia seguinte
Três contra um
No dia seguinte eu fui com o tênis mais duro e resistente que eu tinha, pensando que eu precisaria chutar e me defender com toda a minha força quando eles viessem me bater
Eu juro que não queria falar disso… não era o planejado
Mas eles iam me bater por eu ser gay
Naquela manhã, durante a aula, mandei uma mensagem pra esse amigo falando do que ia acontecer e ele sem me avisar, foi até a minha escola na saída da aula
Sem eu ter solicitado ajuda
Ninguém nunca tinha feito isso por mim
Nem os amigos da escola, que não se importavam ou notavam esse tipo de coisa, e eu quieto e corajoso prosseguia, como foi durante umas três vezes em que eu me defendi de quem vinha me bater – batendo com toda a minha força
Era algo instintivo
Como se minha vida merecesse a minha auto defesa
E em todas as vezes eu consegui me defender
Evitando ao máximo os conflitos
Mas dessa vez, na saída deste dia de aula… eles não vieram brigar comigo
Só ameaçaram e sumiram para sempre
E meu amigo ainda estava lá
Falamos de coisas que eu talvez nunca irei esquecer
Poesia pura, meu irmão
E ele também havia colocado um tênis bem forte, sem a gente ter falado ou combinado isso anteriormente
Era uma segurança a mais que ele também tentava ter… já que a desvantagem é sempre cruel
Três contra um
Eu perguntei pra ele se ele não tem medo de brigar
Me respondeu que morre de medo
Mas que não iria deixar de vir
Mesmo com medo
Que estaria pronto para bater em quem estivesse me batendo, custe o que custar
Fiquei sem reação
Aprendi muitas coisas
Ele não precisava ter ido lá
Eu não esperava ou pediria isso para alguém
Naquele momento, eu estava saindo de uma vivência de pânico – quase desligado da terra. Vendo um filme na minha mente, como se minha vida fosse acabar ali. E nada disso aconteceu daquela vez
Pra agora estarmos aqui conversando
Agradeci muito. Aquilo marcou a minha adolescência
Meses depois esse meu amigo começou a namorar com meu antigo melhor amigo
E sumiu
Nunca mais falou comigo
Nenhum dos dois
Alguns anos depois voltou (apenas ele) como se nada tivesse acontecido, trocando ideia sobre os anos passados
Dias depois ele sumiu. Me contou que estava voltando com o namorado após alguns dias de briga e separação
Sumiu por mais uns quatro anos
Eu respeito o silêncio das pessoas
Das amizades que se calam por vontade própria
Pois nunca tive preguiça de correr atrás de quem quer que eu corra… mas com toda a classe do mundo, percebo claramente quando não me querem
E assim habitamos o silêncio entre nós
Ele se foi
Livre
Não o havia prendido dentro de mim
Mas voltou. Depois desses quatro anos
Outro sumiço na sequência. Depois o mesmo ciclo, um ano depois
Que foi quando eu me despedi
Disse que eu não gostava de conversar um único dia e depois ficar anos em silêncio
Não fazia sentido nenhum
Eu não mencionei mas antes de tudo isso começar a acontecer, pude fazer muitas coisas pra ele
Coisas que não importam dizer
Mas me virei depois da despedida
E prometi pra mim nunca mais olhar pra trás
Foi um auto respeito
Mas ainda assim… entre todos e todas… só ele entendeu meu medo e desespero
A minha vida por um fio
De repente estou lutando
É tudo o que eu sei
Que estou lutando
Me jogaram num campo de batalha
Estão me agredindo
Não gostam de nada errado assim
Contemporâneo demais
A casa de pedras começa a desabar
A temperatura sobe
Alguns nunca me viram desse jeito
Exalando liberdades
Mas os que viram sabem do que sou capaz
Agredindo preconceitos alheios
Ele está aqui
Lutando ao meu lado
Não tenho medo de lutas
Minha vida vale mais que isso
Jamais deixarei de enfrentar
Me agride
Me corroe
Obrigado amigo, vencemos esta guerra
Fômos fortes na defesa
Tu me ensinou muitas coisas
Agora, amigo, vá embora
Eu te dou a liberdade que tu também é
Nunca cobrei ou esperei nada de ti
Incluindo amizade
E eu sempre entendi que você era comprometido
Não te beijei
Essa foi a sua revolta
Houve um dia em que você foi o meu amigo
E depois disso, nunca mais
Não retorne, amigo
Sou eu quem partiu dessa vez
E não duvide, eu sou bom em sumiços
E em ignorar coisas que eu bati o martelo
Mesmo após anos sem posição
Não precisamos disso… mas te dei todas as chances
E em todas a sua resposta era clara
E silenciosa
Entenda que eu sou uma canção inteira
Com harmonia, fortes notas e longa extensão vocal
Fale alto
Sussurros como estes não são audíveis
A casa despencou inteira no chão
Ninguém entendeu nada
Mas o dia raiava com o sol pleno e quente
O inverno nunca aconteceu
Essas temperaturas acabam comigo
Porém lutei contra
Agora tudo já passou
Daqui uns dias eu vou para praia
Torrar na areia
Me esquentar de verdade
Salvar alguém que esteja em perigo
É assim que eu retribuo esse tipo de coisa
Agrupando as pedras das ruínas
E não repetindo velhos erros.
Igor Florim
as vezes os dedos de uma mão representam todos AMIGOS, que temos, as vezes sobre, eu sempre respeitei a liberdade dos outros, Nada de cobrar, hoje infelizmente minhas melhores amigas estão no Brasil, mas nos falamos, nos preocupamos um com os outros, cada um escolhe um caminho. não passa nada, ou como dizem aqui no passa na, seguimos em frente porque atrás sempre vem gente.
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exato, nada de cobrar!
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