
Alguns dias se finalizam em cenas cálidas
O sol já não está mais por aqui, sabe-se Deus onde se meteu
Restam agora rastros de seu trajeto luminoso e sombras concretas eternizando o momento seguinte
Novo
Tudo mudou, novamente
A sombra ocupa a cidade
Qualquer tentativa de luz evidencia ainda mais a escuridão da noite
Delimitando
Lux in tenebris
Sou a sombra de uma calçada antiga
Que agora sem o sol, esfria, congela
Há pessoas passando por aqui mas nenhuma delas quer ficar
Apenas transitam e encontram um rumo para suas velhas casas
Por aqui às vezes dormem comigo os sem-teto, mendigos, transeuntes
Todos velhos amigos
Mas a noite é o lugar da esbórnia
Há luxúria, sorrisos, excessos
Mas não aqui
Este é o lugar onde muitas coisas não acontecem
Esqueceram de nós
Esqueceram da rua
Mas a novidade que eu te ofereço é a de que todos os esquecidos, sendo lugares ou seres, não deixam de existir
Tu pode nunca mais olhar pra sarjeta e ainda assim ela existirá
Eles estão lá
Dormindo
Solitários
E quando você pagar a conta do bar no sábado a noite
Ou fingir não olhar para quem te pede alguma comida
Ou ao dormir, acordar…
Enquanto tudo isso acontecer, por aqui ainda estarão os pobres
As castas inferiores
Mas não para ti. Você é isento de tudo isso
Afinal, por que ajudaria quem nada tem?
O que mudaria na sua riqueza de se alimentar todos os dias?
É uma pergunta para ti.
E sei que não é esse o ângulo que tu escolhe visualizar
Porém é esse o reino que eu irei incluir
São essas as pessoas que eu quero de companhia para jantar
Este é o verdadeiro renascimento
E enquanto eu poetizo histórias, eles ainda existem
Lá
Nas sombras
No seu sono profundo
Querem-me assim: poeta
Para que eu narre aos seus ouvidos belos versos
Exprimindo belezas poéticas que os da sarjeta nunca leem
Mas o mundo ainda assim não irá parar
Isso afetaria a comida que alimenta a sua gula
Ou os lucros das etiquetas de preço que tu paga
O mundo foi feito para ti
Rico
Iluminado
E bem longe da sarjeta
Protegidos da escuridão
Mas eles ainda estão lá
Faça você algo para isso mudar, ou não
Porém ignoro se o mundo não o faz
Farei eu
Tudo o que posso
E nessa noite dormiremos juntos
Abraçados
Nos esquentando da solidão lunar
Sobreviventes do caos urbano
Vítimas
Excluídas da sua rotina, só para tu não ver
E quem sabe pensar que o mundo é menos injusto do que é
Mas ainda assim, nada disso tirou àqueles tantos das calçadas
Estão lá
E você… você não
Há coisas impossíveis de mudar. Mas para todas as outras: como agir?
Eis a questão
Faça.
Mude.
Igor Florim
Muito profundo!
Desconfio que quando escreves, muitos seres de luz escrevem contigo 😊
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❤
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Sumidão, que encontro as 1:33, que anseio calado e estático e mostro o barato, barato de ler obra prima, obra prima de Igor que nem precisou manufaturar para ser uma incrível solução homogênea. Impossível controlar o lírico mental quando gosto de um texto! Parabéns! Ótimo trabalho. 🌫
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Caraca tantas Palavras Esse Textos
Nossa gostei muito essa Matéria gostei mandou Aí
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