
Por que tu desistiu de viver?
Eu, que fiquei longos anos sem te ver, sempre lembro de ti como aquele tigre lindo e jovem
O tempo não perdoa, foi isso que te aconteceu
Até a mais bela flor está morrendo
Dissipando sua vida aos poucos
Até que no chão caia para nunca mais se levantar
Apenas soltar as suas pétalas
Apodrecer o seu caule
Mas meu bem, não se apresse
Viva bem essa sua vida
Esse galpão fala disso, já notou?
Como assim?
Ora, olhe esse enorme vão
O quanto ele é amplo
Mas pequeno num mundo imenso
Quase irrelevante
Porém aqui dentro, ele é um mundo inteiro
Podemos viver aqui nesse mundo
Correr
Crescer
Mas o que tem lá fora?
São essas as minhas dúvidas
Estou explorando esse galpão
Abrindo portas
Vasculhando cômodos internos
E quando o faço, fico lá pensando: e agora? o que tem lá fora?
Esse galpão é pequeno demais para o meu mundo
Você lembra do dia em que nos falamos pela primeira vez?
Todos olhavam para ti
O seu deslocar era uma dança
E você, jovem, vivo, dançava até nós
Todos te invejando
Querendo a sua vida
Buscando a vitalidade dos seus passos
E aí te encontro alguns anos depois com você sucumbido ao mundo
Que medo é esse que te faz morrer aos poucos?
Entenda que você é o ápice da vida
A pessoa mais vivaz que eu conheço
Depois de mim talvez
Um jovem vivaz nato
Acho que todos os jovens são assim
Mas poucos são jovens de verdade
A morte destas partes suas, soam como uma próxima morte das minhas
Somos quase a mesma coisa, você sabe disso
Não desista
Resgate
E nisso levantamos. Essa viagem foi quando deitamos no galpão
Era bom olhar para cima
Alguns pássaros cruzavam o alto do salão
Donos de todos os céus
Lá fora faz muito sol
Eu não vou te deixar deitado, morto
Farei com que corra ao meu lado
Salve-se quem puder, marujo
Já fizemos isso outras vezes
Por que disso tudo, né?
A gente se destrói aos poucos
E o mundo sempre atualizando a etiqueta de preço das coisas
Altas inflações
Se despediu bem do galpão?
Nunca mais voltarei pra cá
Quero seguir em frente como nunca antes
Ficamos em silêncio
Andamos um longo trajeto
E ofegantes paramos. Eu imediatamente deitei no chão
É o modo de respirar com o solo que eu encontrei
Você veio e deitou com a cabeça no meu peito
Ambos respirando, cansados
Faz tempo que ninguém me toca
Me afastei de quase todos os toques
Achei que era assim que eu me encontraria
Talvez me perdi mais
Porém, aprendi tudo
E eu virei um ogro
Não sei mais como me relacionar, desculpe por isso
Me levantei e corri
Corri sem parar
Gritando desculpas ao mundo
Hoje é o dia disso
Recomeçar
Agir
Me soltem
Todos vocês, me soltem
Sou um tigre veloz
Correndo sem parar
Adeus
Me soltem.
Igor Florim
Você tem o poder de me tocar sem usar as mãos…
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